Moçambique: Terrorismo está a normalizar-se no país
A atividade terrorista continua e já se alastrou para outras províncias, para além de Cabo Delgado, devido à passividade do poder político nacional e internacional. A mobilização dos jovens sobre o tema está a desvanecer-se cada vez mais pela falta de respostas para este grave problema.
Parece que a comunidade internacional já se esqueceu do conflito terrorista em Moçambique, nomeadamente na província de Cabo Delgado, mas a atividade continua e já se estendeu para outras províncias do país, como por exemplo para a província de Nampula.
No início do mês de setembro, foi confirmado um ataque armado na aldeia de Kutua, no posto administrativo de Odinepa, no norte do país. Manuel Manussa, administrador do distrito de Erati, referiu que “casas foram incendiadas e a unidade de saúde foi danificada”.
Erati é um distrito localizado na fronteira entre as províncias de Nampula e Cabo Delgado, nesta última a atividade terrorista iniciou-se com maior frequência em outubro de 2017. As empresas de pedras preciosas têm tomado conta do território e existe medo das organizações ambientalistas, e outras, de fiscalizar o desmatamento das florestas e a atividade de extração.
Este já não é o primeiro ataque terrorista na província de Nampula o que revela que os terroristas estão a mobilizar-se também fora de Cabo Delgado.
A juventude teve um papel preponderante nas mobilizações contra as atividades terroristas em Cabo Delgado, sobretudo no início dos ataques, mas agora, cada vez está menos mobilizada devido à falta de respostas para a resolução do conflito.
Tem havido relatos de vários ataques perpetrados por jovens que se fazem passar por grupos terroristas. Um dos últimos foi na província de Cabo Delgado, também no início do mês, onde os jovens incendiaram casas com a intenção de roubar bens, de acordo com o comandante provincial da Polícia da República de Moçambique.
Terrorismo tende a normalizar-se no pais e os jovens estão cada vez menos mobilizados pela causa
Em declarações à JUPLP, Bruno Mourinho, de Moçambique, 25 anos, membro-fundador da JUPLP e Mestre em Relações Internacionais, apontou que a atividade terrorista no país “está a tornar-se recorrente, está a ficar um hábito, está a ficar no «deixa andar» e a comunidade internacional, neste caso as organizações presentes, fizeram uma conferência para chamar a atenção das autoridades e de todos os moçambicanos de que este problema de terrorismo em Cabo Delgado corre o risco de ser esquecido”.
Para Bruno Mourinho, isto quer dizer “que normalizar-se significa transformar-se num conflito social normal” como está há tantos anos no Mali ou no Quénia.
Relativamente à juventude moçambicana, o jovem refere que “houve tempos em que fizemos muito barulho com a campanha de Cabo Delgado por todo o país”, no entanto, essas mobilizações têm abrandado.
“O ativismo dos jovens está a terminar porque acaba por ser frustrante haver mobilizações e depois acabas por ver que as coisas não vão mudar tão cedo, já que há interesses maiores políticos e internacionais em cima da mesa. Então, acredito que isso também é cansativo para a juventude”, disse Bruno Mourinho.
Outro dado preocupante, apontado pelo fundador da JUPLP, é que em Maputo está tudo normal, mas as embaixadas começaram a reforçar a sua segurança. Portanto, “creio que o conflito vai chegar a Maputo, mais cedo ou mais tarde, partindo do princípio que a atividade terrorista já saiu da província de Cabo Delgado para a província de Niassa e há pouco dias também à província de Nampula”, refere.
As embaixadas já estão a colocar janelas com vidros anti-bala e a embaixada dos Estados Unidos deslocalizou os serviços para outro local.
“Há este sentimento por parte da juventude de estar incapacitada, de estar de mãos atadas, de não conseguir fazer quase nada. Enquanto isto acontece, há movimentações para vários projetos regressarem em 2023”, termina Bruno Mourinho.
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