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A Eurorregião Galiza-Norte de Portugal como exemplo de cooperação lusófona e as Lusorregiões

A cooperação entre o Norte de Portugal e a Galiza é cada vez mais uma peça de destaque quando falamos de cooperação internacional, nomeadamente dentro do espaço lusófono.

Esta cooperação, nesta região em específico, é derivada das proximidades linguísticas e geográficas, fortalecida pela continuidade populacional existente entre Aveiro (Portugal) e a Corunha (Galiza)


É um organismo que tem como base a promoção e a valorização do tecido empresarial da região, mas também cria equipamentos necessários para aumentar a coesão territorial e social e promover a atividade cultural e turística. Esta eurorregião tem um papel importante para criar um diálogo entre as populações e os seus organismos representativos e foi a oportunidade para debater e pensar novas reflexões sobre o território e a sua identidade.


Por que não aproveitarmos os bons exemplos e levamos esta cooperação territorial para toda a Lusofonia? É claro que entre o Brasil e Angola ou entre Guiné-Bissau e a Galiza não existe uma continuidade geográfica nem populacional (no sentido lato da palavra), mas com certeza que encontramos pontos de aproximação que nos levará a dialogar e promover a cooperação institucional, social, cultural e financeira entre estes territórios.


O desenvolvimento territorial não está só dependente de uma continuidade geográfica e já existem projetos entre vários territórios lusófonos que demonstram isso, como por exemplo os efetuados pelo Fundo Galego de Cooperação e Solidariedade, fazendo um excelente trabalho em países como Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola. É necessário sim uma continuidade temporal nestes projetos e estarem baseados, claramente, no território e nas suas necessidades específicas para sustentar bases num processo de criação de um sentimento de pertença do espaço lusófono.


Já que existem projetos esporádicos, mas competentes, de cooperação entre os vários territórios lusófonos, existe assim também o reconhecimento de que é necessária esta cooperação, que ela é importante.


Quero levar à reflexão esta ideia: criar lusorregiões com base em pontos de aproximação cultural, social, arquitetónica ou territorial nas diferentes regiões, vilas ou cidades dos países ou territórios que falem o galego-português. Refletir sobre a construção destes territórios como espaços colaborativos, dialogantes e, claro, complementares para a promoção do desenvolvimento territorial e social.


Os pontos de aproximação das Lusorregiões podem ser extremamente diversificados, indo desde a afinidade linguística, as relações históricas, as semelhanças urbanísticas ou arquitetónicas, a proximidade cultural, entre outras. Também é óbvio que existem necessidades diferentes de território para território, de Timor-Leste para Moçambique, de Portugal para São Tomé e Príncipe, mas com certeza que também encontraremos necessidades semelhantes e é nesse âmbito que se deverá sustentar a Lusorregião, potencializando o financiamento e diversificando os investimentos.


É importante institucionalizar ou potencializar a relação entre estes territórios com o financiamento de projetos específicos para estas zonas, projetos comuns. É neste processo que também acabaremos por potencializar estratégias comuns na economia, na inovação e na investigação. Envolver municípios, universidades, governos e todas as formas de organizações locais que sejam necessárias para levar os projetos avante.


Com que pontos de aproximação poderemos sustentar uma Lusorregião?


Culturais: A região do Rio de Janeiro, no Brasil, é conhecida por ser o palco da maior festa do país com o seu Carnaval. O Carnaval carioca cria momentos de diversão para todos os públicos com as suas folias, os blocos de rua e os bailes cheios de glamour e cores. As escolas de samba são as rainhas da festa e nela participam milhares de pessoas.


Noutro continente, em Moçambique, a cidade de Quelimane é considerada como o “Pequeno Brasil” porque lá se realiza o maior e melhor Carnaval do país africano. Durante anos, sobretudo durante o período colonial, este Carnaval só era realizado nos salões de alguns clubes, mas a partir da década de noventa que a folia foi transportada para a rua ganhando assim um perfil claramente popular, e é neste caráter popular que se poderá sustentar a Lusorregião do Rio-Quelimane.


Em Quelimane existem grupos de foliões, carros alegóricos, máscaras e reis e rainhas do Carnaval, tal como na grande festa carnavalesca do Rio de Janeiro. Por que não começar a debater projetos de desenvolvimento social, económico e comercial para melhorar e desenvolver estas duas cidades?


Arquitetónicos: Devido ao período colonial português, muitas cidades e vilas dos territórios ocupados acabaram por ter uma clara semelhança na sua construção e forma de organização territorial, muitos exemplos teríamos e aqui encontraremos dezenas de possibilidades para sustentar uma Lusorregião.


Por dar um exemplo podemos nomear a cidade de Ouro Preto, no estado brasileiro de Minas Gerais, sendo um ponto fundamental de convergência mineira a partir do século XVII. Muitas das igrejas da cidade são consideradas muito semelhantes com a forma arquitetónica da maior parte das igrejas portuguesas. A cidade, de facto, tem as suas parecenças com a cidade portuguesa de Óbidos ou de Sintra e aqui podemos encontrar mais um ponto de convergência para trabalhar uma Lusorregião.

Atividade económica: Na Galiza, o setor pesqueiro é um grande fator de desenvolvimento económico sendo o porto do Vigo um dos mais importantes do setor na Europa, já existiram movimentações para projetos de cooperação económica, nomeadamente entre a região galega e a região brasileira de Itajaí, por isso, este também seria um forte ponto de aproximação para sustentar, de forma continuada, uma Lusorregião.


Para além de na Galiza, estudos em Cabo Verde mostram que o país, na última década, aumentou os recursos humanos neste setor em mais de 1500 trabalhadores, as exportações cabo-verdianas derivadas da atividade pesqueira, sobretudo conservas e peixe congelado, chegou aos 38 milhões de euros em 2021, um aumento de 1,6% face ao ano anterior.


Uma Lusorregião servirá para aproximar pontos entre a região de Vigo, por exemplo, e a Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, e, em conjunto, desenvolver projetos de cooperação que fortaleça a atividade pesqueira no país africano e desenvolva economicamente a região galega.


Realizo assim uma breve reflexão do que poderá ser um projeto de cooperação lusófono com base nos exemplos das Eurorregiões, sobretudo a Eurorregião Galiza e Norte de Portugal. As lusorregiões poderão ser as bases para o fortalecimento da relação entre os vários territórios de fala portuguesa, sustentado no desenvolvimento mútuo em prol das populações e do setor económico através da aproximação de diversos setores económicos como o pesqueiro, turístico ou através da aproximação de marcos arquitetónicos, culturais e sociais.


BIBLIOGRAFIA:


  • ceres.org;

  • ccrd-n.pt/pagina/servicos/cooperacao/galiza-norte-de-portugal;

  • A Euroregião Galiza-Norte de Portugal: uma plataforma territorial para a inovação. Paula Ribeiro e Teresa Sá Marques nas VII Jornadas da Geografia Económica;

  • pgl.gal

  • European Comission (2006): Territorial State and Perspectives of the European Union;

  • interiordoavesso.pt;

  • rio-carnaval.com/guia/carnaval-no-rio

  • rfi.fr/br/africa/20160207-carnaval-no-pequeno-brasil-em-mocambique

  • ouropreto.org.br

  • visao.sapo.pt/


Diego Garcia


Nasceu em Ourense, na Galiza, no dia 1 de agosto de 1992. É uma simbiose galego-portuguesa, passou a sua infância na Galiza, na Mezquita, até aos 16 anos, mas reside em Portugal, no distrito de Viseu, desde 2009. É um dos coordenadores da Juventude Unida dos Países de Língua Portuguesa e responsável pelo departamento de comunicação da organização.


É finalista da Licenciatura em Estudos Europeus pela Universidade Aberta de Portugal, com especialização em Direito, Economia e Sociologia.


Trabalha como tradutor, revisor e locutor freelancer e jornalista em diferentes meios da Galiza e Portugal e está fortemente ligado ao movimento associativo na área ambiental, do bem-estar animal e da juventude. Já foi deputado municipal e trabalhou como assessor parlamentar.

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