Entrevista a Manuel Simón Nóvoa - A juventude é o presente! A JUPLP e o Conexões em Vigo
O movimento Juventude Unida dos Países de Língua Portuguesa (JUPLP) celebrou neste mês de junho a terceira edição do Conexões sob a legenda A juventude é o presente! Após um primeiro evento em Coimbra em finais de 2021 e um segundo na Cidade da Praia no mês de abril, a iniciativa da JUPLP chegou à Gallaecia Magna em duas datas: quinta-feira dia 16 além-Minho, no Porto, e sexta dia 17 aquém, em Vigo. Manuel Simón Nóvoa, membro galego da JUPLP, fala-nos sobre o movimento e em especial sobre o Conexões.
A JUPLP celebrou no passado mês o Dia das Letras Galegas. Como é que nasceu e como chegou a Galiza a se integrar nela?
A JUPLP nasceu em julho de 2020 com o objetivo de se tornar uma representação da juventude lusófona. É um movimento criado por jovens, para jovens e com intuito de aproximar as nações em projetos que promovem o diálogo, o debate e o intercâmbio cultural. Os membros da JUPLP compreendemos que fazemos parte de um coletivo diverso, com diferentes culturas e percorridos históricos. Porém, também somos cientes de compartilharmos certa cultura comum, um laço que nos une de forma invisível através da língua. Preferimos focar-nos nos pontos comuns mais do que nos afastarmos pelas diferenças que possam existir.
Num primeiro momento, a Galiza não fazia parte deste diverso conglomerado, pois a JUPLP teve a sua origem noutros países ‑com especial destaque do Brasil‑, onde a Galiza nem sempre é percebida como mais um membro da lusofonia. Depois de um processo de reflexão, motivado pela enorme curiosidade que por vezes o nosso país levanta no mundo lusófono, a JUPLP decidiu integrar a Galiza como mais um membro de pleno direito. Isto só aconteceu em fevereiro de 2022, isto é, após mais de ano e meio de vida da organização. Acho que é uma amostra mais do que está a conseguir a interconectividade que a Internet oferece nos nossos dias, que ademais sofreu um processo de aceleração motivado pela pandemia da COVID-19, onde resulta mais singelo que nunca ler sobre outras culturas e até comunicarmo-nos diretamente com elas. Já temos os meios, apenas resta a vontade.
Qual é o labor da JUPLP, para além das pontes que cria entre as pessoas que a conformam? Qual é, em síntese, o seu objetivo último?
Criamo-la porque somos pessoas inconformadas com a realidade e contexto estrutural a nível internacional dos nossos dias, ou seja:
conhecemos muito pouco uns sobre os outros em termos culturais, políticos e sociais;
consumimos e temos muito acesso à informação e conteúdo de países anglófonos e francófonos, o que por vezes cria o sentimento de exclusão e fomenta a ausência do sentimento de pertença aos nossos valores comuns;
temos poucas ou inacessíveis plataformas de partilha de oportunidades dentro da nossa realidade linguística e cultural;
somos solidários a causas humanas distantes do nosso contexto cultural apesar da falta de entrosamento e informação, que procuramos solucionar; e
notamos que o empoderamento juvenil e a disponibilidade de formações e informações sobre desenvolvimento pessoal não chegam a todos os jovens de nossa enorme e rica comunidade.
Existe vinculação formal ou informal entre a JUPLP e a CPLP? Há comunicação com ela?
A JUPLP nasceu, em parte, motivada pelo cansaço de «lutarmos» constantemente contra toda a burocracia em que se baseiam e suportam organizações como a CPLP. Achamos esta burocracia muito pouco dinâmica e, afinal, perseguimos evitar isso. Porém, existe certa comunicação com ela, pelo de agora informal e, decerto, agradecemos o trabalho que a CPLP faz também pela língua.
Têm representação na JUPLP todos os países de língua portuguesa?
Atualmente a JUPLP tem representação, isto é, membros ativos, de: Galiza, Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Portanto, muito poucos países estão sem representação. Ademais, a cada pouco tempo realizamos processos de recrutamento onde focamos os nossos esforços naqueles territórios onde a JUPLP ainda não possui nenhum membro. Processos como este já foram realizados na Galiza, graças ao qual eu me incorporei e, mais recentemente, no Timor-Leste. Contactar com pessoal interessado neste país do sudeste asiático supôs um enorme repto, já que as diferenças culturais e a enorme distância geográfica desde praticamente qualquer outro ponto da lusofonia pareciam difíceis de superar. Felizmente, não foi assim: mais uma vez demonstramos que graças à Internet e com vontade é possível contactar com ‑quase- qualquer ponto do planeta.
Quanto à Guiné Equatorial, o seu governante chegou a tal com um golpe de Estado em 1979; mercê à sua condição, desde a década de 90, de exportadora de gás e petróleo, foi incorporada à CPLP em 2014 por petição do Brasil; embora a Guiné Equatorial oficializara em 2010 a língua portuguesa, a realidade do país é que apenas um mínimo volume de população é que a utiliza realmente. Qual a postura da JUPLP a este respeito?
A JUPLP não tem ainda uma opinião oficial sobre o assunto pelo facto de ainda não termos membros da Guiné Equatorial no movimento. Prezamos pela representatividade e assim consideramos que a nossa posição ficaria mais sólida.
No entanto, levantamos algumas dúvidas relativamente ao cumprimento das Liberdades e Garantias dos cidadãos e cidadãs desse país, tal como temos dúvidas sobre a verdadeira implementação da língua portuguesa no estado.
Já em relação ao próprio evento Conexões, em que consiste? Como foi esta terceira edição?
O Conexões tem um formato muito específico, ou seja, consiste numa roda de conversa onde os participantes vão lançando temas para cima da mesa e depois segue-se um debate. Não há um plano de temas pré-definido, no entanto, giram à volta da lusofonia, da mocidade, da língua e dos territórios de fala portuguesa.
No Porto, tal como já tinha acontecido nos Conexões de Coimbra e Cidade da Praia, para além dos temas óbvios foram discutidas as problemáticas existentes em Moçambique ou Cabo Verde e que derivam da imposição da língua portuguesa face a outras línguas locais. Para os participantes ficou claro que o português, tal como todas as línguas, deve servir como uma ponte para outras culturas e outros territórios e não como uma barreira que poderá asfixiar a identidade do povo e da cultura local.A questão galega foi um assunto transversal a Vigo e ao Porto, tal como já o tinha sido em Coimbra. De forma geral, os participantes têm muito interesse em conhecer a situação da língua na Galiza devido também ao muito desconhecimento que existe na juventude lusófona sobre o assunto. Em Vigo, para além dos assuntos comuns nos vários Conexões, foram também abordadas as relações da Galiza com a restante lusofonia. Mas também foram divulgadas algumas curiosidades históricas do galego-português.
Entrevista realizada e publicada pelo periódico Novas da Galiza em junho de 2022 sob a responsabilidade de Jota Rodrigues
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